E tudo o “fracking” mudou
As imagens da NASA publicadas aqui pela Quartz são a prova luminosa de uma transformação enorme que está a ocorrer na economia mundial: os Estados Unidos da América vão tornar-se muito em breve autosuficientes em termos energéticos.
Isto acontece graças ao fracking, uma técnica de extracção altamente polémica, dadas as suas potenciais consequências negativas para o ambiente, mas que permite retirar crude e gás de onde antes se pensava ser impossível. É por isso que, já em 2017, se espera que os EUA se tornem no maior produtor mundial de petróleo, ultrapassando mesmo a Arábia Saudita, um cenário que seria considerado absolutamente impossível há bem poucos anos.
Como é fácil de calcular, as consequências geoestratégicas desta mudança podem ser enormes. Um relatório recente dos serviços secretos alemães (BND) diz mesmo que os EUA vão ser os grandes vencedores da corrida global às fontes energéticas. Por causa dessa nova disponibilidade, antecipa-se já um renascimento da indústria no país, dado que passará a ter energia a custos competitivos. O relatório alemão também antecipa outra possibilidade – a de os Estados Unidos se distanciarem em relação em relação ao Médio Oriente, uma vez que já não estarão dependentes do petróleo que é ali produzido. Aí, creio que Joseph Fitsanakis, no seu comentário à notícia, tem razão: não é pelo facto de os norte-americanos necessitarem menos do petróleo do Médio Oriente que vão deixar de procurar manter a sua influência na região. Até ver, petróleo é poder, e a superpotência dominante não pode dar-se ao luxo de abdicar dele.
(Des)União Europeia IV
A AOL Defense tem uma análise geopolítica muito interessante sobre o presente e o futuro da Europa, da autoria de Harald Malmgren e Robbin Laird.
Deixo aqui um extracto do último parágrafo, traduzido por mim:
Um período importante da história europeia está a chegar ao fim. O caminho em direcção ao federalismo europeu é o desfecho lógico dos desenvolvimentos dos últimos 20 anos, mas os desafios são difíceis de continuar neste caminho.
Um desfecho mais provável é a desagregação e a reestruturação da Europa. Sugerimos mesmo que um novo mapa europeu pode surgir, e discutimos este mapa nos termos de três dinâmicas: a formação da Euro-Alemanha, o papel incrementado dos estados nórdicos, forjado em volta do seu destino árctico, e a implosão da Grécia.
Não tão bom quanto parecia
Os rumores de que o F-22 Raptor está longe de ser invencível em combate aéreo foram agora confirmados pela Combat Aircraft Monthly, via Danger Room.
Um dos pilotos alemães que participou no Exercício Red Flag, em Junho, no Alasca, explicou à revista como os Eurofighters da Luftwaffe conseguiram “abater” os F-22 várias vezes. O segredo, parece, é chegar o mais próximo possível do Raptor e obrigá-lo a um combate de curta distância, onde o peso maior do F-22 o coloca em desvantagem face a opositores mais ágeis.
Em distâncias mais longas, a velocidade do Raptor, associada ao seu radar e aos mísseis AMRAAM dão-lhe vantagem clara – já para não falar da sua capacidade stealth.
O problema, como diz o Danger Room, é que a grande maioria dos combates aéreos se dá a curtas distâncias.
O F-22 Raptor é o caça mais sofisticado e caro de sempre (cada unidade custou mais de 120 milhões de euros), e deveria assegurar aos Estados Unidos a superioridade incontestada nos ares nas próximas duas ou três décadas. Pelo menos foi assim que foi “vendido” pela Força Aérea ao Congresso.
A sua “derrota” face a aviões sem capacidade de evasão aos radares, como são os Typhoon, deverá levar a uma reanálise profunda da sua doutrina de utilização.
(Des)União Europeia III
“Estamos a fazer tudo o que podemos para assegurar que a Grécia fica de pé. E eles [os alemães] fazem tudo o que têm ao seu alcance para garantirem que falhemos. Não sei se o fazem conscientemente ou por serem estúpidos”.Declarações do primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, numa reunião de deputados do seu partido, a Nova Democracia.
Grécia, raus!
Espero estar enganado, mas parece-me que a tampa do caixão da Grécia acaba de ser fechada. O ministro alemão da Economia disse ontem que o cenário da saída grega do euro “deixou de ser assustador há muito tempo”. Philipp Roesler assume que “é evidente que Atenas não tem registado progressos no cumprimento do plano de reformas acordado com a UE e o FMI”, e que “se a Grécia não cumprir as condições que negociou não poderá receber mais pagamentos”. Tudo isto é dito no mesmo dia em que a revista alemã Der Spiegel noticia que o FMI, a Alemanha e outros países da Zona Euro se recusam a dar mais um cêntimo a Atenas. Sem novo financiamento, calcula-se que a Grécia caia na bancarrota já em Setembro.
Se juntarmos a isto o aumento em flecha dos juros da dívida pública espanhola, que está a ser impulsionado pelas contas castastróficas dos governos regionais, rapidamente percebemos que a Zona Euro e a União Europeia estão a um passo do precipício. Algo de radical tem de ser feito – e já.