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Algo mais sobre os navios dinamarqueses

post que escrevi há poucos dias sobre a compra de navios patrulha dinamarqueses para a Armada é, de longe, o mais lido neste blogue. Na sexta-feira, “A Espada e o Escudo” teve quase 800 visualizações e mais de 500 visitantes de dezenas de países, a esmagadora maioria dos quais leram ou passaram os olhos por esse texto.

Não esperava, de todo, este nível de interesse pelo tema, mas ainda bem que aconteceu.

Assim sendo, e porque o post deu origem a vários comentários, que desde já agradeço, achei que deveria escrever algo mais sobre este assunto.

Os comentaristas mostram-se muitos críticos da compra dos Flyvefisken, não tanto por ela mesma, mas pelo que representa: o abandono do programa dos Navios de Patrulha Oceânica (NPO); o fim dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e do Arsenal do Alfeite enquanto centros estratégicos de manutenção da capacidade portuguesa de fazer construção naval militar; a degradação da capacidade da Armada para fazer o que lhe compete, sendo que se lhe pede cada vez mais.

No fundo, tudo isto se sintetiza em duas questões: como é que Portugal pode ter o Mar como desígnio estratégico de primeira grandeza se, depois, a Marinha substitui navios de 40 anos por outros com 20?

Como é que sucessivos governos proclamam o nosso destino atlântico e, depois, nem sequer conseguem garantir que o país tenha capacidade financeira e técnica para construir uma dúzia de navios de patrulha?

Obviamente, a resposta às duas perguntas é negativa.

O problema, como todos sabemos, é de meios e de vontade política.

A verdade é que gastar dinheiro com as Forças Armadas não dá votos – pelo contrário, até os tira, especialmente numa altura de profunda crise económica como é a actual. Logo, os políticos, independentemente da sua cor, têm muito pouco interesse em dar às Forças Armadas aquilo que é necessário para as suas missões.

Assim, vista por este prisma, a decisão de investir 25 ou 30 milhões de euros na compra de quatro navios usados, na altura em que se dá, não é assim tão negativa. Não tenhamos ilusões: a única alternativa real era pura e simplesmente deixar a Armada abater os patrulhas e as corvetas sem substituição, o que seria muito grave.

Pessoalmente, confesso que fiquei surpreendido por saber que ainda há uma tal quantia para gastar em navios e a vontade de a empenhar nisso.

É o estado a que chegámos.

 

Portugal compra patrulhas à Dinamarca

"RDN P555 Storen 1" by Kim Storm Martin, www.notatia.dk - iloapp.notatia.dk/data/_gallery/public/0/1216861029.jpg. Licensed under Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 via Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:RDN_P555_Storen_1.jpg#mediaviewer/File:RDN_P555_Storen_1.jpg

Navio patrulha “Storen”, da Marinha Dinamarquesa (classe Flyvefisken), desarmado em 2010 após 9 anos de serviço. Foto: Kim Storm Martin http://www.notatia.dk -iloapp.notatia.dk/data/_gallery/public/0/1216861029.jpg.

É oficial: até ao final do ano, Portugal vai comprar quatro navios patrulha à Dinamarca. A informação vem da boca do próprio chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), numa longa entrevista à RTP.

O almirante Macieira Fragoso não especificou quais as embarcações que vão ser adquiridas, mas não é muito arriscado avançar que serão os patrulhas das classe Flyvefisken (“Peixe Voador”, em português).

Ao todo, foram construídos 14 navios deste tipo entre os anos de 1985 e 1995. Três foram vendidos à Lituânia e um mantém-se ao serviço da Dinamarca. Os dez restantes foram retirados do serviço entre 2006 e 2012, o que significa que têm tempos de serviço que oscilam entre os 15 e os 22 anos. Isto vai de encontro à afirmação do CEMA de que os patrulhas que Portugal irá adquirir ainda terão mais 15 anos de vida útil.

Sem conhecer o estado específico de cada embarcação e o número de dias em que estiveram no mar (e elas andaram por mares bem difíceis!), o ideal seria que viessem os quatro navios mais novos da segunda série da classe: Gribben (1993); Ravnen (1994); Skaden (1994); Viben (1995). Falo da segunda série porque houve três, muito embora as diferenças entre elas se situem apenas ao nível da propulsão.

Outra questão – e vital – é o “recheio”. O almirante Macieira Fragoso revelou que os navios custarão 30 milhões de euros, o que considerou um excelente negócio, mas também mencionou que será necessário actualizá-los. Presume-se que esse será um custo à parte, o que elevará bastante o preço final. Mesmo assim, e tendo em atenção que só o NRP Viana do Castelo custou mais de 50 milhões de euros, não se pode dizer, para já, que a opção não é económica…

No que diz respeito às características técnicas gerais, à partida tudo parece bater certo: os Flyvefisken precisam de poucos tripulantes (19 a 29, consoante a configuração), estão preparados para enfrentar o pior do Atlântico (ou não tivessem patrulhado os mares da Gronelândia) e, graças ao sistema Modular StanFlex, podem ser configurados facilmente para diferentes missões, com diferentes armamentos. É claro que a Armada irá usá-los “só” para patrulha, o que não exige mais que um canhão e algumas metralhadoras, mas é sempre bom saber que, com uma simples mudança de contentor, estes navios podem passar a ter mísseis Harpoon e Sea Sparrow, que já são usados pela Marinha nas suas fragatas.

Enfim, o negócio não parece ser mau, mas tudo dependerá do estado em que os dinamarqueses mantiveram os navios.

Navios usados… outra vez

Como é habitual, o discurso do chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) no Dia da Marinha passou despercebido, mas este ano havia uma novidade de monta: como já tinha calculado aqui, a Marinha está à procura de navios em segunda mão para uma possível substituição das corvetas das classes Baptista de Andrade e João Coutinho, e dos patrulhas da classe Cacine.
Todas estas embarcações têm mais de 40 anos, ou muito perto disso, e só a incrível capacidade das Forças Armadas Portuguesas de fazer durar para além do tempo adequado o seu equipamento permite que elas ainda naveguem sem grandes percalços. Estes navios já deviam ter sido todos substituídos pelos Patrulhas Oceânicos, mas só se construíram dois, e não é previsível que o programa seja retomado.
Bem, mas o que é demais é demais e, por isso, o CEMA afirmou ” a curto prazo é imperioso substituir os meios que estão no fim da sua vida operacional, retomando os programas de reequipamento da esquadra, designadamente, a construção dos Navios de Patrulha Oceânica e das Lanchas de Fiscalização Costeira. Porém, como é sabido, a construção naval é lenta e dispendiosa e por isso também equacionamos a eventual aquisição de navios usados, que nos garantam 10 a 15 anos de operação, e assim suprir a lacuna de meios até que as novas construções estejam prontas”.

Se, e quando, isto vai acontecer é outra história, mas, para já, aceitam-se sugestões. Alguém tem ideia de que navios em segunda mão a Marinha possa comprar? 

 

Incêndio na Baptista de Andrade

Corveta Baptista de Andrade (Marinha Portuguesa)
Foto: Departamento de Defesa dos EUA

A corveta Baptista de Andrade, da Marinha Portuguesa, teve um incêndio a bordo na última madrugada. O fogo deflagrou na casa das máquinas, uma zona vital do navio, mas foi controlado em meia-hora, segundo a Armada. A Baptista de Andrade pôde prosseguir pelos seus próprios meios para Sines, onde oito marinheiros foram levados para o hospital, devido a intoxicações. Todos eles tiveram alta esta manhã.

Não há nenhum dado que nos permita concluir que este acidente está relacionado com a idade provecta do navio (38 anos), até porque a Marinha tem um excelente registo de segurança, mas também não vale a pena esconder o óbvio: as corvetas das classes Baptista de Andrade e João Coutinho já não deviam estar ao serviço. Para além de serem obsoletas, exigem recursos humanos e materiais desproporcionados às missões para as quais estão destacadas (patrulha e busca e salvamento).

Nesta altura, as sete embarcações já deviam ter sido substituídas pelos famigerados navios de patrulha oceânica (NPO), mas esse programa de reequipamento está parado e não se prevê se e quando será retomado. Tema para outro post.